Genealogia é o mapa das ligações biológicas entre diferentes indivíduos e gerações. Como ciência, é uma auxiliar da história, estudando a origem, evolução e dispersão das famílias e respectivos sobrenomes ou apelidos. Praticada em tempos passados exclusivamente pela elite, e misturando indiscriminadamente lendas e fatos, servia mais ao desejo de afirmar o prestígio das famílias e legitimar suas pretensões ao poder do que à documentação da história e preservação da memória. A partir de fins do século XVII passou a ser investigada de maneira científica, mas manipulações ideológicas persistem até hoje. A genealogia tem associações profundas com uma ampla variedade de políticas e ideologias raciais, sociais, culturais e nacionalistas, e é um elemento fundamental na estruturação, coesão e funcionamento das sociedades. Sua relevância em múltiplos níveis justifica a vasta bibliografia existente sobre o tema. Na contemporaneidade a pesquisa genealógica se tornou uma atividade extremamente popular, que tem provocado um impacto importante nas formas de entendimento do passado e das origens pela população em geral, fenômeno que tem atraído a atenção dos especialistas pelos problemas que a atividade leiga desencadeia no sentido de uma difusão acrítica da história e de conhecimentos que muitas vezes são falsos ou distorcidos.
A genealogia se ocupa da identificação da ligação biológica
entre diferentes indivíduos e da reconstituição da sequência ordenada de
gerações dentro de um grupo familiar, buscando determinar as origens, a rede de
parentescos e a evolução cronológica da família. Numa perspectiva mais
abrangente, onde se associa à prosopografia, à história, às ciências humanas e
sociais, procura reconstituir o perfil e a história social, política, econômica
e cultural da família e seus integrantes, suas associações com outros grupos e
seu papel na sociedade. No âmbito da história a genealogia está centrada no
estudo das famílias, dando subsídios para e sendo subsidiada por outras
ciências, como a sociologia, a economia, a história da arte, a genética, a
medicina ou o direito.
O terno também é empregado em outras áreas de estudo
significando a pesquisa das origens, ligações e desdobramentos de determinada
ciência, corrente, ideologia, ideia ou tendência, de outros seres vivos, ou
mesmo de objetos e invenções, como por exemplo a genealogia da moral, a
genealogia da matemática, a genealogia da filosofia de Kant, a genealogia do
cão doméstico, a genealogia do violino.
A genealogia é reconstituída através de documentos escritos,
como atos legais (certidões, contratos, etc), bibliografia histórica, crônicas,
arquivos cívicos e religiosos, correspondência, inscrições, lápides, imprensa,
mas também pode se valer de tradições orais e imagens. A genealogia pode ser
ascendente, partindo do sujeito presente e retrocedendo pelas gerações
antepassadas, ou descendente, partindo do fundador da família e acompanhando a
evolução da sua posteridade.
Um dos principais problemas da pesquisa genealógica é
assegurar a veracidade das informações transmitidas pelos documentos e tradições.
A oralidade em geral é uma fonte pouco confiável, sendo particularmente
propensa a distorções e imprecisões, mas a fraude documental também é muito
frequente. Além disso, a documentação pode atestar uma filiação oficialmente
reconhecida, mas também pode dissimular uma adoção secreta ou o fruto de um
adultério. Quando o pesquisador imagina estar seguindo a linha do sangue pode
estar seguindo uma linha que é apenas cartorial, e quanto mais se recua no
tempo, mais difícil é descobrir se esses desvios ocorreram ou não. Estimativas precisas são impossíveis, mas calcula-se que na população europeia
exista uma taxa média de até 4,5% de falsa paternidade.
Determinar a veracidade nem sempre é possível, e por isso a
genealogia é uma ciência que tem de lidar com grandes doses de incerteza, mas
mesmo quando se sabe que as informações são inverossímeis, elas podem conter
elementos verdadeiros e podem apontar para pistas que levem ao descobrimento da
verdade. Podem auxiliar a diminuir as dúvidas a comparação entre documentos
diferentes tratando do mesmo tópico, a análise do perfil prosopográfico do
grupo familiar, a análise científica da documentação na tentativa de descobrir
falsificações, comparação do material genético dos alegados membros da família,
etc, o que requer conhecimento especializado e grande experiência. A
genealogia a todo momento envolve o trabalho com documentos antigos, às vezes
em línguas diferentes ou em dialetos já poucos compreensíveis, ou em
caligrafias difíceis, e com expressões de significado sutil ou variável,
elementos cuja decifração e interpretação correta estão além do alcance de
amadores.
Outro problema relevante é a dificuldade de traçar a
genealogia europeia para trás da Idade Moderna, primeiro pela crescente
escassez de fontes, e segundo pela inconsistência nas maneiras de denominação
das pessoas, que não usavam sobrenomes antes do século XI, antes do século XVI
a prática ainda não se generalizara e a inconsistência na onomástica se
perpetuaria em certas regiões ainda por séculos. Por muito tempo as pessoas
foram denominadas pela sua ocupação, pelo nome do pai, pelo lugar de origem ou
por algum apelido, como por exemplo João Ferreiro, Antônio [filho] de Batista,
Pedro de Florença ou José o Velho, ou de maneiras arbitrárias. Muitos desses
apelativos acabaram se fixando como sobrenomes. Em outras culturas, porém, como
a chinesa, os sobrenomes se fixaram muito mais cedo, mas em muitas outras nunca
foram usados. Mesmo depois de estabelecidos, os sobrenomes podem mudar por
várias razões, como para evitar perseguições políticas, para ocultar uma origem
indigna, por tradições locais, por apadrinhamentos, por erros de registro que
se perpetuaram nas gerações sucessivas. A tradição portuguesa, por exemplo, foi
muito livre quanto à adoção de sobrenomes, podendo ocorrer vários na mesma
célula familiar, e isso se reproduziu no Brasil até a padronização imposta no
século XX.
Além desses problemas, a existência de muita homonímia
frequentemente leva à confusão entre personagens diferentes. Tampouco a posse
de um mesmo sobrenome é garantia de consanguinidade.
Fonte: Wikipedia
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